Thursday, April 30, 2009

120 / Trabalhar por Objectivos - (2)

Porque será que admiramos as empresas privadas quando elas aparecem diante de nós com a arrogância do resultado porque, alegadamente, têm uma boa organização e uma boa gestão e desprezamos o equivalente do sector Estado?
Porque será que fechamos os olhos à disciplina imposta, baixos salários, excesso de carga horária, fardamento, etc., só porque é do sector privado?
Porque será que o sector Estado é massacrado se é geralmente cumpridor?
Porque será que causa celeuma, enquanto trabalhadores do Estado, uma directiva quanto à forma de vestir numa Loja do Cidadão e enquanto trabalhadores privados, seja em grandes superfícies, em bancos, a vender roupa, sapatos ou servir bicas à mesa, o primeiro acto de empresa e de aceitação das condições de trabalho é pôr o funcionário fardado e ... Silêncio?
Porque será que o Estado não pode impôr/negociar objectivos com os seus funcionários?
Porque será que sempre que a PSP traça objectivos, vêm logo os OCS dizer que é «caça à multa» ou «é repressão» e «não é prevenção» e outra série de barbaridades que nem vale a pena mencionar?
Só por curiosidade,e porque se fala em objectivos, republica-se hoje, ao entrar em Maio, a mensagem 70 / Trabalhar por Objectivos [11 de Maio de 2008].
«Todas as organizações trabalham por objectivos. Sejam elas públicas ou privadas. Há objectivos que, pelo empenho, podemos com maior ou menor dificuldade atingir: dependem de nós. Há outros, refectindo-se na nossa área de actuação, pouco ou nada podemos fazer, limitando-nos a registá-los: não dependem de nós. Há outros que, não dependendo totalmente de nós, mas também, sendo facilmente alcansáveis podem ter o efeito perverso, pois o registo do fenómeno, se não for bem analisado, corre a desfavor. Em todo o caso, anualmente, quando analisamos os números [que erradamente insistem em chamar estatística] verificamos que há uns números [registos de crimes] que sobem, outros que descem. É normal. O que não é normal é crucificarem uma organização porque tem objectivos. Menos normal, é o representante dessa organização, sentir a necessidade de vir comentar o comentário do comentarista que comentou o que ouviu dizer que havia sido comentado, algures numa região do país. Todos temos objectivos».

Tuesday, April 28, 2009

119 / Acredito Que Sim

Francisco de Oliveira Pereira, Director Nacional da Polícia de Segurança Pública, deu uma entrevista ao Jornal de Notícias [28ABRL09]. Como estas coisas não acontecem por acaso, por aqui, desconfia-se. Não daquilo que o DN disse. A entrevista, aliás muito inofensiva, tanto nas perguntas como nas respostas, pouco ou nada diz daquilo que já não se saiba, ou sabia. Nem à suposta pergunta polémica sobre os sindicatos, a resposta deixou de ser normal, real, límpida e... politicamente correcta:
«JORNAL DE NOTÍCIAS: Há actualmente nove sindicatos na PSP, como lida com esse número?
OLIVEIRA PEREIRA
: Esse número desagrega um pouco o tecido policial, porque são muitas pessoas, tem a ver com a operacionalidade da polícia por razões que mexem com o gozo de licenças, o gozo de créditos, tudo isto tem implicação no próprio serviço. Quando há uma esquadra que tem sessenta homens e em que dez são sindicalizados e que têm direito aos créditos, naturalmente que isto vai ter implicações do ponto de vista operacional».
«JORNAL DE NOTÍCIAS: Mas isso acontece?
OLIVEIRA PEREIRA:
Não sei se agora acontece, mas sei que aconteceu e não foi há muito tempo».
Então o que é que faz o Nosso Homem a Nossa Esperança dar uma entrevista destas? Será porque fez um ano que tomou posse? Não nos parece. [ver mensagem 51 / Francisco de Oliveira Pereira - 14MAR08].
A resposta é assaz simples: o Nosso Homem ou anunciou a sua retirada ou ameaçou com a sua retirada. Se foi anúncio, é porque perdeu a guerra com a administração central na defesa dos seus Homens; se foi ameaça é porque a guerra ainda vai no adro e é um sinal para confiarmos.
Até porque à pergunta mais importante da entrevista, «Então os polícias manifestam-se porque se sentem descontentes?» a resposta não podia ser mais conclusiva:
«Acredito que sim».

Saturday, April 25, 2009

118 / Segurança, Sentimento e Opinião

Publicou a revista «Visão» no seu último número ( 842, 23 a 29 de Abril) um estudo de opinião. O resultado desse estudo é interessante, pois aponta aquilo que mais nos caracteriza enquanto portugueses: o verdadeiro espírito de contraposição (não não nos enganámos. É mesmo contraposição). Nós queremos mas não queremos. Nós gostamos de uma coisa... porque odiamos outra. Melhor que sermos melhores em alguma coisa, é haver alguém pior. E quando somos piores, gostamos de ser os melhores nisso. Funcionamos por contrapeso. Já a Lili dizia que «estar vivo é o contrário de estar morto» originando um absurdo coro de textos de gozo acerca da elegante senhorita; como se pelo facto de existirmos estivessemos a viver. Enfim. Voltando ao estudo, que trata de do 25 de Abril/Revolução/Liberdade/etc., verifica-se então que aquilo que os portugueses sentem mais falta é PODERMOS SAIR À NOITE À NOSSA VONTADE E COM SEGURANÇA (35,1%). Perguntado se HÁ LIBERDADE EM PORTUGAL?, a resposta foi mais contudente, pois cerca de 71% respondeu que sim. Mais espantosa, é a percentagem de portugueses que nada abdica para que a tão propalada insegurança possa vir a diminuir, isto é, num claro exercício «QUERO, MAS NÃO QUERO!». Vejamos:
PERGUNTA GENÉRICA:
CONCORDA EM ACABAR COM ALGUMA DESTAS LIBERDADES PARA MELHORAR A SEGURANÇA OU ECONOMIA DA PAÍS?
- Buscas policiais sem autorização dos juízes [SIM: 22,6% - NÃO 64,9%]
- Levantamento de sigilo bancário [SIM: 41,1% - NÃO 43,2%]
- Detenções policiais sem factos para culpar as pessoas [SIM: 9,0% - NÃO 82,8%]
- Escutas telefónicas e visionamento do correio electrónico sem autorização de um juíz [ SIM: 18,5% - NÃO: 65,2%]
- Videovigilância nos lugares públicos [SIM: 69,7% - NÃO: 20,8%].
Resumindo: queremos os lugares com videovigilância, mas que no fim não servirão para nada pois a recolha de imagem, mesmo que levante suspeitas, ou apresente indícios de crime, nada adianta, pois não queremos um trabalho policial sem validação de um juíz, não podendo deter um suspeito para averiguar ou salvaguardar qualquer prova inicial e muito menos escusam de pedir o levantamento do sigilo bancário.
[Será que seria pedir muito, para contento do pessoal, e para se sentirem mais seguros, se fechássemos as portas, pelo menos, de sexta à tarde a segunda de manhã?]

Monday, April 20, 2009

117 / Sou Enganado

Eu quero amor da flor de cactus
Ela não quis
Eu dei-lhe a flor de minha vida
Vivo agitado
Eu já não sei se sei
De tudo ou quase tudo
Eu só sei de mim, de nós
De todo mundo
Eu vivo preso à sua senha
Sou enganado
Eu solto o ar no fim do dia
Perdi a vida
Eu já não sei se sei
De nada ou quase nada
Eu só sei de mim
Só sei de mim
Só sei de mim
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia
Dia após dia
O patrão nosso de cada dia


Vinte e um anos depois, homenagem a todos os Polícias, de ambos os lados da barricada.
http://www.mpbnet.com.br/musicos/secos.e.molhados/letras/o_patrao_nosso_de_cada_dia.htm

SECOS & MOLHADOS - Conjunto vocal formado em 1971 por Ney Matogrosso, cantor; Gerson Conrad (São Paulo SP 1952), cantor e compositor; João Ricardo (João Ricardo Carneiro Teixeira Pinto, nasceu em Ponte do Lima, Portugal 1949), cantor e compositor.

Saturday, April 18, 2009

116 / O Canal Técnico

A Polícia de Segurança Pública, apesar do folclore que se pretende à volta dela, nunca esteve tão capacitada quer em recursos técnicos, quer em recursos humanos. Por outro lado, e quase paradoxalmente, com o crescendo da componente técnica, tem-se vindo a desvalorizar [ou será desvalorar] a componente hierárquica. Criou-se inclusivamente, para obviar alguma ignorância técnica, diga-se até, alguma rejeição às novas tecnologias por parte de algumas chefias colocadas em locais estratégicos, o chamado Canal Técnico. O que é afinal, o Canal Técnico? Resumidamente é o seguinte: é a forma de pôr funcionar a organização, por pessoal tecnicamente competente mas hierarquicamente incompetente. O que, por maioria de razão, cria automaticamente a figura do superior hierárquico tecnicamente incompetente. A ajuda para o desenvolvimento do Canal Técnico não passa só pelo alheamento das chefias intermédias (ou superiores): a democratização das novas tecnologias tem sido um factor importante – se não o mais importante – para a ocorrência deste fenómeno. Com o recurso ao correio electrónico não há hierarquia que nos valha. Desde os «Oi!», os «Boas!» até aos «Inté!», tudo serve para que qualquer sujeito nos melgue com um assunto qualquer. E pior! Após o envio do correio electrónico, o destinatário que se lixe, pois o remetente assume que, se aquele não leu o correio, que o tivesse lido: «eu já enviei a mensagem. Até imprimi o recibo como ele o recebeu!» O Canal Técnico veio também a criar uma nova figura hierárquica e moderna, para substituição de uma outra mais tradicionalista (ou conservadora, como quiserem). É a figura do «Encarregado», pois grande parte das mensagens do correio electrónico começa assim: «Encarrega-me o Exmo. Sr. Comandante de…»
[Esperamos todos que o Novo Estatuto venha a integrar esta nova figura de base, mas que acima coloque o «Encarregado Geral», e abaixo o «Subencarregado-Principal», com direito a “subsídio de correio” e, como especialidade, “subsídio de letra”].