90 / Real
Dois polícias, um homem e uma mulher, abateram, a tiro, os seus companheiros. Os motivos, dizem, foram de ordem passional. Vão desculpar todos, mas aqui, o desacordo não pode ser maior. Condenem-se os actos, horriveis, hediondos, mas não se desprezem as causas. O desequilibrio emocional que levou ao cometimento do crime, até poderá ser passional. Mas as causas remotas estão já há muito definidas por todos: instabilidade laboral, insalubridade laboral, falta de protecção hierárquica, afastamento do núcleo familiar, maus vencimentos, nulas recompensas, carga horária excessiva [não esquecer que para além das horas normais diárias ainda há as idas a tribunal, ainda que em folga, os serviços remunerados compulsórios...], falta de perspectiva nas carreiras [quer vertical quer horizontal], exigências especias para se ser polícia mas a inexistência de qualquer regalia para essas exigências, sobreexposição mediática, dupla tramitação processual disciplinar, etc., etc., etc. e, least but not the last, o alheamento e incapacidade de reconhecer e/ou resolver/encaminhar dos problemas dos subordinados, por parte das chefias directas. Enfim, este é o post que gostaríamos de nunca ter escrito. Nem estamos a branquear os actos, que desde já se condenam. Mas, mais uma vez dizemos: há muito que estávamos à espera que algo do género acontecesse. Foi pena que tivesse acontecido, mas que ninguém se mostre surpeendido.